Tirinhas, tatuagens e o reflexo da sociedade - 3

17:12 Anita the Kat 0 Comments

Quarta-feira, 13 de abril de 2011.

FONTE: historiasdoronaldo.blogspot.com

As portas do estúdio se abrem, a boca do cliente se mexe e, prepare-se: o show da falta de originalidade e da falta de personalidade vai começar. É bate-volta. É minuto a minuto. Entra um e sai outro zumbi guiado pelo controle-remoto da mesmice, da modice e da babaquice.
É certo que cada um tem o direito de ser retardado, fazer o que bem entender com seu corpo e arcar com conseqüências e afins, mas, por favor, de onde sai tanta gente oca de pensamentos? Por que e de onde surgiu a idéia de que para fazer uma tatuagem ela tem que ser igual a da artista da novela, do cantor, do vizinho ou do Zé da Esquina?
A tatuagem já não é tão mal vista como antigamente, mas a mesma leva que contribui para aceitação da body art é a mesma que prolifera a falta de criatividade e atinge em cheio o peito de quem não tem nada com isso. Imagine você ter todo um cuidado na escolha do desenho que vai ornar seu corpo pelo resto da vida e Um Qualquer simplesmente se acha no direito de fazer uma cópia no corpo dele.
Achar o trabalho bonito, legal e identificar-se não é motivo para se apropriar de uma coisa que tem a alma de outrem. Seja autêntico, tenha personalidade. No máximo, use o tal desenho interessante para servir de inspiração para uma nova obra; e não um plágio deslavado.

“Ah!, meu caro amigo, você não calcula como a originalidade me preocupa. É uma necessidade moral e física de ver outro eu. Eu queria falar como ninguém fala, com palavras que ninguém mais empregasse; vestir-me de outra maneira, viver numa casa como nunca existisse.” (Guilherme Augusto Cau da Costa de Santa Rita ou simplesmente Santa-Rita Pintor, pintor e escritor português)

Esses Um Qualquer chegam aos montes, todos os dias, nas portas dos estúdios e vomitam idéias roubadas, e, muitas vezes, não sabem nem o porquê da existência delas ou de eles mesmos estarem ali. “Qual a tatuagem da moda?”, “O que mais está se fazendo?”, “Quero igual de fulana!” “Tem que ser bem pequenininha e delicadinha, mas não sei o que fazer!” são algumas das frases que caem como raios nos ouvidos dos bons profissionais.
Quando esses Um Qualquer esbarram com bons profissionais, eles são podados, acordados para a vida e param instantaneamente de se proliferarem. Mas a pausa, infelizmente, é por pouco tempo. Essa parcela escrota volta ao transe rapidamente e trata de arranjar um outro dito profissional que aceita fazer o Control+C e Control+V da vida alheia. Tudo em troca de míseros trocados. Porque os maus profissionais, além de fazerem uma merda de trabalho, ainda cobram pouco para estragar a pele dos outros. Bela troca.
Mesmo assim, esses Um Qualquer sempre se acham os exclusivos. Sim, são os exclusivos idiotas que somados contribuem para a banalização da arte e do preço dela, da falta de valorização dos profissionais e da proliferação de urubus. São os mesmos que tratam a arte como um adesivo, uma figura descartável, algo vazio e inútil que passeia sem alma pelas calçadas a ver vitrines.

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