Tirinhas, tatuagens e o reflexo da sociedade - 4 (final)
Terça-feira, 19 de abril de 2011.
FONTE: ryotiras.com
Bons tatuadores, às vezes, perdem tempo e dinheiro.
Mas, também, podem dormir com a consciência tranqüila por não serem cúmplices
de algumas idéias de jerico de seus clientes. Quem trabalha, principalmente, em
estúdios de tatuagem, com certeza, já topou com alguém muito fissurado em fazer
um desenho que de longe qualquer ser do universo diria que mais tarde ele iria
se arrepender.
Mas, enfim, há gosto e louco para tudo. O que preocupa
é o crescente número de pessoas que querem porque querem uma tatuagem por N
motivos que no final se resumem a nenhum. Uma tattoo não precisa ter um
significado e tampouco um motivo para ser feita. No entanto, é preciso ter
segurança e pulso firme para ostentá-la.
Todos os dias os estúdios se enchem de pessoas que
caem sem pára-quedas em busca de uma tatuagem. Não aquela sonhada e planejada
tatuagem. Mas a impulsiva, a da amiga, a da artista. Ou pior: tem sempre
aqueles que mal entram porta adentro e gritam: “Quero fazer uma tatuagem. Qual
a que mais está saindo?” Vontade de falar que é um pinto na testa não falta. Ou
melhor: uma árvore nas costas! Por quê? Para dar o cu na sombra. No entanto, é
melhor nem dar idéia. Porque quem tem a 'coragem' de ser Maria-vai-com-as-outras
também é capaz de fazer bobagens estratosféricas. Não duvide.
Outra grande falta de noção é a modinha de tatuar nome
de namorados. Ainda mais quando chegam os meados de junho. Se já há brigas
entre cães e gatos e entre irmãos, filhos e pais, qual a ilusão de que os
namorados são eternos? Sem contar que depois de a cagada estar feita, só uma
cobertura com desenhos com partes escuras para cobrir. Ou laser. Ou sal grosso.
Depende da cabeça e do bolso.
Há os que preferem também homenagear artistas de TV ou
da música com nomes e retratos nas mais variadas partes do corpo. Só que se
esquecem que não é um amor; mas uma paixão momentânea. Amanhã, o artista some,
troca a cara, o repertório ou o foco conforme o acordo com o empresário, e, se
o tatuado não tiver peito suficiente, ali jaz uma louca paixão.
Outras grandes candidatas à fila do arrependimento são
as adolescentes mimosinhas. Gostam de tudo no diminutivo, mas no futuro terão
um aumentativo de incomodação. Aqueles desenhozinhos de fadinha, de
borboletinha e de florzinha, todos mínimos, se não virarem um borrão, serão
selos eternos da falta de maturidade. Ou da falta de noção dos pais, que,
muitas vezes, autorizam menores de idade a fazerem tatuagens – antes mesmo de
meninas e meninos ganharem corpo, quiçá cérebro. Não se tocam que a pele
estica, mas não em igualdade para todos os lados. Eis aí porque o desenho da
adolescência está todo torto e centímetros acima do local escolhido.
Junto à onda dos precipitados tem os que vão na maré
dos outros. Tatuam desenhos de gostos que não são os deles, simplesmente para
chamar a atenção, agradar alguém, ou por que mesmo? Há os que procuram
tatuadores pelos menores preços, como se a arte fosse medida por isso. Preço
menor não é garantia nenhuma de bom trabalho. Pode até ser. Mas, provavelmente,
é garantia de início de carreira, de desespero, de economia de material de
qualidade ou de falta de segurança. “Que legal, fiz uma tatuagem e ganhei uma
doença de brinde!”, poderiam dizer por aí muitos desses ignorantes de plantão.
E aqueles que pedem uma coisa e saem dos abatedouros com outras? Com palavras
escritas erradas, com rostos deformados...
Não se economiza com tatuagem, ela não é um bem de
consumo qualquer. Não é uma camiseta, um pão, um fogão que você compra por R$
100 aqui e ali os mesmos itens estão por R$ 10. E isso é dificílimo de se
enfiar na cabeça dessas pessoas que, a cada dia, contribuem para a banalização
e, ao mesmo tempo, aceitação da tatuagem.
Tudo tem um pró e um contra. Às vezes, mais contra. No
caso das tatuagens mal pensadas e mal feitas, só muitos contras. A tatuagem
dura muito mais que a vida. Chega o dia da morte, e a tatuagem continua na pele
durante mais algum tempo. Será eterna enquanto durar o corpo. E, aliás, você
ainda acredita que é o namoradinho que é para sempre?
FONTE: karapuca.com.br
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