Tirinhas, tatuagens e o reflexo da sociedade - 4 (final)

14:56 Anita the Kat 0 Comments

Terça-feira, 19 de abril de 2011.

FONTE: ryotiras.com

Bons tatuadores, às vezes, perdem tempo e dinheiro. Mas, também, podem dormir com a consciência tranqüila por não serem cúmplices de algumas idéias de jerico de seus clientes. Quem trabalha, principalmente, em estúdios de tatuagem, com certeza, já topou com alguém muito fissurado em fazer um desenho que de longe qualquer ser do universo diria que mais tarde ele iria se arrepender.

Mas, enfim, há gosto e louco para tudo. O que preocupa é o crescente número de pessoas que querem porque querem uma tatuagem por N motivos que no final se resumem a nenhum. Uma tattoo não precisa ter um significado e tampouco um motivo para ser feita. No entanto, é preciso ter segurança e pulso firme para ostentá-la.

Todos os dias os estúdios se enchem de pessoas que caem sem pára-quedas em busca de uma tatuagem. Não aquela sonhada e planejada tatuagem. Mas a impulsiva, a da amiga, a da artista. Ou pior: tem sempre aqueles que mal entram porta adentro e gritam: “Quero fazer uma tatuagem. Qual a que mais está saindo?” Vontade de falar que é um pinto na testa não falta. Ou melhor: uma árvore nas costas! Por quê? Para dar o cu na sombra. No entanto, é melhor nem dar idéia. Porque quem tem a 'coragem' de ser Maria-vai-com-as-outras também é capaz de fazer bobagens estratosféricas. Não duvide.

Outra grande falta de noção é a modinha de tatuar nome de namorados. Ainda mais quando chegam os meados de junho. Se já há brigas entre cães e gatos e entre irmãos, filhos e pais, qual a ilusão de que os namorados são eternos? Sem contar que depois de a cagada estar feita, só uma cobertura com desenhos com partes escuras para cobrir. Ou laser. Ou sal grosso. Depende da cabeça e do bolso.

Há os que preferem também homenagear artistas de TV ou da música com nomes e retratos nas mais variadas partes do corpo. Só que se esquecem que não é um amor; mas uma paixão momentânea. Amanhã, o artista some, troca a cara, o repertório ou o foco conforme o acordo com o empresário, e, se o tatuado não tiver peito suficiente, ali jaz uma louca paixão.

Outras grandes candidatas à fila do arrependimento são as adolescentes mimosinhas. Gostam de tudo no diminutivo, mas no futuro terão um aumentativo de incomodação. Aqueles desenhozinhos de fadinha, de borboletinha e de florzinha, todos mínimos, se não virarem um borrão, serão selos eternos da falta de maturidade. Ou da falta de noção dos pais, que, muitas vezes, autorizam menores de idade a fazerem tatuagens – antes mesmo de meninas e meninos ganharem corpo, quiçá cérebro. Não se tocam que a pele estica, mas não em igualdade para todos os lados. Eis aí porque o desenho da adolescência está todo torto e centímetros acima do local escolhido.

Junto à onda dos precipitados tem os que vão na maré dos outros. Tatuam desenhos de gostos que não são os deles, simplesmente para chamar a atenção, agradar alguém, ou por que mesmo? Há os que procuram tatuadores pelos menores preços, como se a arte fosse medida por isso. Preço menor não é garantia nenhuma de bom trabalho. Pode até ser. Mas, provavelmente, é garantia de início de carreira, de desespero, de economia de material de qualidade ou de falta de segurança. “Que legal, fiz uma tatuagem e ganhei uma doença de brinde!”, poderiam dizer por aí muitos desses ignorantes de plantão. E aqueles que pedem uma coisa e saem dos abatedouros com outras? Com palavras escritas erradas, com rostos deformados...

Não se economiza com tatuagem, ela não é um bem de consumo qualquer. Não é uma camiseta, um pão, um fogão que você compra por R$ 100 aqui e ali os mesmos itens estão por R$ 10. E isso é dificílimo de se enfiar na cabeça dessas pessoas que, a cada dia, contribuem para a banalização e, ao mesmo tempo, aceitação da tatuagem.

Tudo tem um pró e um contra. Às vezes, mais contra. No caso das tatuagens mal pensadas e mal feitas, só muitos contras. A tatuagem dura muito mais que a vida. Chega o dia da morte, e a tatuagem continua na pele durante mais algum tempo. Será eterna enquanto durar o corpo. E, aliás, você ainda acredita que é o namoradinho que é para sempre?


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